Como a saúde pública é afetada pela falta de saneamento básico?
O saneamento básico é a forma mais eficiente para prevenir doenças veiculadas ao meio hídrico, pois afasta vetores, como roedores e insetos, e evita a poluição das águas. Apesar de ser um serviço de suma importância, estima-se que nos países em desenvolvimento cerca de 90% do esgoto seja lançado sem tratamento nos corpos de águas. No Brasil, o cenário não é mais otimista, pois apenas 46,2% da população têm acesso à coleta e ao tratamento de esgoto, como aponta o Instituto Trata Brasil (2013).
Com isso, a população fica mais vulnerável, principalmente a de baixa a renda, à contaminação por doenças como febre tifoide, cólera, leptospirose, disenteria bacteriana, infecções como a amebíase, giardíase e teníase. A diarréia leva a óbito em torno de 2,2 milhões de pessoas por ano no mundo, segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (2010). Em 2000, cerca de 2,4 milhões de pessoas morreram por doenças relacionadas ao sistema de abastecimento de água precário, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso quer dizer que o número de mortes por consumo de água contaminada por esgoto doméstico é maior do que o número de vítimas de guerra, por exemplo. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 760 mil crianças com idade entre 0 e 5 anos morreram por diarréia em 2011. Neste balanço, deve-se considerar o custo despendido para tratar pessoas com estas doenças, já que mais da metade dos leitos de hospital no mundo é ocupada para este tipo de tratamento.
E será que as condições aqui em Florianópolis são melhores? A nossa cidade foi classificada em 49° lugar no ranking de saneamento das principais brasileiras em 2015, com o índice de tratamento de esgoto de 46,6%. Santa Catarina foi classificado como o sexto pior estado brasileiro, evidenciando um quadro grave de negligência administrativa por parte do poder público, cabe também responsabilizar a população em geral nessa problemática. O relatório do programa ‘Floripa, se liga na rede’ em 2016 apontou que 49,9% dos locais inspecionados apresentaram irregularidades, que acabam interferindo no funcionamento da rede de esgoto além de gerar problemas ambientais como poluição de praias e consequentemente de saúde pública. Para alterar esse quadro são necessárias demandas do investimento público em ampliações do sistema de coleta de esgotos além de um sistema de fiscalização rígido que empodere a população acerca da importância da ligação à rede de esgoto.
Silva e Fonseca (2016) associaram o estado de eutrofização aos casos de doenças relacionadas à água, encontraram que no ano de 2014, 5.358 casos de diarreia e de gastroenterite na Unidade de Pronto Atendimento – UPA Norte, localizada no bairro de Canasvieiras, bacia hidrográfica do rio Papaquara, onde as águas apresentam características eutróficas. A menor incidência dessas doenças esteve associada a melhor qualidade da água, o que ocorreu no Canal de Jurerê.
REFERÊNCIAS
SANTA CATARINA. Prefeitura de Florianópolis. Floripa Se Liga na Rede. Se Liga na Rede: 51,1% das ligações estão regulares. 2016. Disponível em: <http://www.pmf.sc.gov.br/sites/seliganarede/?pagina=notpagina&menu=3¬i=17977>. Acesso em: 13 maio 2017.
UNICEF. Crianças morrem diariamente devido à falta de água potável, saneamento básico e higiene, diz UNICEF. 2013. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/pt/media_25190.html>. Acesso em: 22 fev. 2017.
TRATA BRASIL. Saneamento básico x Saúde no Brasil. 2013. Disponível em: <https://tratabr.wordpress.com/2013/04/09/saneamento-basico-x-saude-no-brasil/>. Acesso em: 22 fev. 2017.
TRATA BRASIL. Ranking do Saneamento 2015: Avanço tímido do saneamento básico nas maiores cidades compromete universalização em duas décadas. 2015. Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-2015>. Acesso em: 22 fev. 2017.
SILVA, A. R. da; FONSECA, A. L. D’O. Eutrofização dos recursos hídricos como ferramenta para a compreensão das doenças de veiculação hídrica. Geosul, Florianópolis, v. 31, n. 62, p 247-270, 2016.
Texto elaborado por:
Mariana Gandra, TCC em Oceanografia: Aplicação de modelo biogeoquímico para compreender os efeitos da instalação de uma estação de tratamento de esgoto no estuário do rio Tavares (Ilha de Santa Catarina, Brasil).
Aichely Silva, Tese: Os impactos das alterações antrópicas no geossistema de bacias hidrográficas e na qualidade das águas costeiras.
Alessandra Fonseca – orientadora